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PROJETO ESPAÇO LITERÁRIO

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Pastas empoeiradas. (Crônica) .

Às vezes fico imóvel e com os olhos abertos a mirar num ponto bem distante. Não enxergo nada ao meu redor, nem mesmo o ponto lá longe. Mas em minha cabeça estou acessando arquivos há muito guardados. Abro pastas empoeiradas que como janelas começam clarear minhas idéias.
Passeio pela infância e me deparo com um menino com sede de viver. Que se esforçou para aprender a enrolar a fieira no pião e fazê-lo zunir. Que se esforçava para fazer as pipas mais lindas e quando as perdia sentia um frio na barriga. Um menino tímido que jogava bolinha de gude colecionava figurinhas e caçava passarinho. Não era bom jogador de bola, mas no riozinho que nadava as escondidas para não apanhar, era um peixinho.
Brincadeiras de criança como pega-pega, polícia e ladrão. As guerrilhas de argila, lutas na areia, passeios ciclísticos, expedições pelas matas do Paraíba e adjacência, banho de chuva, pescarias no arrozal e valetas, Lambaris, Traíras, Tilápias, Tuviras, fritinhos na bandeja. Que delícia!
Como tudo isso marcou minha vida!
Lembro-me desse menino que só andava descalço, com o cabelo despenteado, ou com boné, roupas ganhadas, pele queimada pelo sol e feliz, feliz da vida por considerá-la tão fabulosa. Assim como nos contos de Monteiro, do sorriso das meninas, do primeiro beijo. Só Pra Contrariar batendo no peito. Sinto tanta saudade desse tempo. Dos amigos que não posso mais vê-los, daqueles que pouco revejo, mas que estão guardados nestas pastas.
Lamento por uma nova geração que cresce com excesso de informações. Que não conhece o zunido de um pião, que não sabe o que é uma cacinha, uma rabiola, o triângulo do jogo de bolinha. É triste ver essa riqueza cultural sendo trocada nesse advento chamado avanço tecnológico. Que prende todos entre muros, criam grades onde não existia, estimula o isolamento atrás de um micro. Sentimentos teclados, represados, invertidos, confusos e muitos até falsos. Pouco convívio social. Nada de cartas escritas a mão com um EU TE AMO destacado dentro de um coração vermelho. Nada de poemas para as amadas, sem flores, sem nada. Apenas MSN, torpedos, relacionamentos virtuais. Nada de abraço, canção em volta da fogueira, batata assada, violão a noite inteira. Apenas baladas, músicas sem conteúdo. Nem uma lentinha pra dançar agarradinho. Só batidão, bebedeira, ressaca.

Não sei se estou velho ou se tirar a poeira dos meus arquivos me fez mal. Acho melhor fechar essas janelas e voltar meus olhos para a realidade. Continuar me adaptando e seguindo, antes que meus arquivos me deixem entristecido.